O assimassim continua atento à deficiência, concretamente a visual. Hoje no nosso caminho conhecemos Aliu Baio, um jovem com 22 anos, reside em Parede no Lar Branco Rodrigues, mas a sua descendência é Bissau.
É desportista, vela e judo, mas a música corre-lhe nas veias... Sempre teve batuques nas mãos e a bateria foi a sua escolha. É um excelente aluno, amigo do seu amigo e tem bem definido o caminho que quer percorrer, estando a música presente.
Aliu Baio, não teve complicações em se adptar a Portugal, somente o clima e a gastronomia lhe quiseram «complicar» algo a vida, mas como um verdadeiro guerreiro fez a sua aprendizagem.
Uma brincadeira com os seus irmãos ditou-lhe a cegueira e num país conturbado e com poucos recursos na saúde trouxeram-no a terras lusas.
Na entrevista de hoje conhecemos este jovem e como, apesar da cegueira, vive intensamente e sempre com a música a o acompanhar.
Assimassim - Porque vieste para Portugal?
Aliu Baio – Eu, vim para Portugal por junta médica, isto porque quando era mais novo, com apenas quatro anos, magoei a minha vista numa brincadeira com os meus irmãos mais velhos. Como o meu país não tinha condições médicas para me tratar, fui enviado para Portugal onde estou desde 2005. Inicialmente, até era para ir para a Alemanha mas uma urgência ditou que viesse então para este país maravilhoso.
Aa - Qual a causa da tua cegueira?
AB - Eu, Aliu Baio, nasci já a ver um pouquinho mal, na ordem dos setenta porcento. Isto veio a piorar porque num dia brincava com os meus manos a beira da estrada na aldeia da minha falecida avó, quando de repente vimos uns camiões carregados de soldados que em 1998 lutavam na guerra civil de Bissau a ir para o lado que brincávamos , assim que os vimos corremos todos para a mata, e eu não reparei que tinha um pau a minha frente e então espetei-o no olho que estava bem, foi então desde aí que comecei a perder a vista até hoje.
Aa - Quando inicias na aprendizagem da música?
AB - Eu Principiei a música em 2009 na minha escola básica como actividade extra curricular, tinha ido eu a uma festa de aniversário a casa de um amigo que tinha bateria, como sempre tive batuques nas mãos o pai dele deu me as baquetas e disse toca. Foi desde então que ele viu que tinha jeito para a coisa, e então disse a escola e pagou algumas das mensalidades das aulas. Um muito obrigado a família Sá Nogueira …
Aa - Que te levou a tal?
AB - O que me levou a musica? Eu acho que foi a minha vontade de fazer ritmos com as mãos desde criança. Adorava tocar em tudo que pudesse, o meu pai até se zangava comigo por estar a tocar na mesa de refeição, e sempre que ouvia música em algum lado lá ia eu. Nasceu comigo …
Aa - Actualmente, onde estás a estudar?
AB - Neste momento, eu estou a estudar numa escola de jazz que se chama Luís Villasboas que é das melhores escolas do país se não a melhor.
Aa - Algum instrumento ou instrumentos de eleição?
AB - Tenho como instrumentos preferidos a bateria, claro, o piano, saxofone, guitarra e baixo.
Aa - Que já conquistaste até hoje?
AB - Na música uma evolução já é uma grande conquista, mas eu conquistei mais do que isso. Conquistei a vontade de subir aos palcos e dar o melhor de mim, e, também a coragem de enfrentar o publico dos concertos e, ainda, conquistei a vontade de trabalhar mais para ser melhor.
Aa - Por outro lado, és cego. É mais difícil a aprendizagem?
AB - Se é mais complicado a aprendizagem? No meu caso, sim. Isto é, como eu estudo bateria, tenho que decorar muitas coisas que por exemplo para os meus colegas que vêm é só ler. E agora vocês dizem assim: e o Braille?
Eu respondo, não dá para tocar com as duas mãos e ler o Braille, e necessário decorar sempre. Por isso digo, no meu caso é mais complicado, só mesmo por essa pequena diferença.
Aa - Os planos de estudo são adaptados a ti. Em que sentido?
AB - Os planos de estudo são iguais uma vez que todos nós, sendo cego ou não, estudamos com base nas gravações que fazemos nas aulas e ouvir muito os trabalhos dos outros que sabem mais que nós no sentido de melhorar o nosso.
Aa - Quando estás a actuar notas um tratamento desigual por parte dos teus colegas?
AB - No meu ponto de vista, quando os músicos estão a tocar são todos “cegos”, isto porque estamos apenas concentrados no som. É claro que há alguma troca de olhares, mas nada que não se possa fazer melodicamente ou ritmicamente.
Aa - Achas mais fácil a aprendizagem num cego ou tal não passa de mito?
AB - Não acho que seja mito ou que seja mais fácil, tudo depende do cego.
há pessoas que têm mais facilidade em aprender que outras, depende do instrumento; há uns mais complexos que outros, depende dos professores; há uns melhores que outros, depende das escolas; há melhores há piores.
Aa - No futuro que pretendes alcançar?
AB - Essa pergunta é complicado de se responder. Em Portugal, a música está complicado, há muitos músicos bons que estão misturados com músicos menos bons e dizer que o nosso futuro como músicos será brilhante ou não é um pouco complicado. Neste caos musical que se vive no nosso país e acrescentando a falta de cultura que o país ostenta, penso que não será necessário mais explicações.
Aa - O que representa a música para ti?
AB - A musica para mim é a mais bela das artes… Desde que era miudinho que sonhava ser músico. A realização desse sonho tem sido a melodia na minha vida, tenho feito um bom percurso nesse sentido. A música corre me nas mãos como o sangue nas veias!…
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