sábado, 10 de setembro de 2016

Ser deficiente é privilégio?



Muitas vezes ouvimos que um deficiente não trabalha, recebe uma pensão, não precisa gastar dinheiro porque tem tudo ou quase tudo….
Será privilégio não conseguir ver o sol? Será privilégio chegar a uma sala lotada e ter sempre cadeira para estarmos sentados (até levamos a cadeira de casa), mas o Estado muitas vezes nada comparticipou na sua aquisição, e poderemos estar a falar de mais de uma dezena de milhares de euros.
Todas as pessoas têm o Direito de ir e vir. Têm o Direito a terem igualdade de oportunidades. Está na lei fundamental do país, a Constituição da República Portuguesa. Mas bastará tais direitos estarem plasmados em forma de Lei? Todos nós deficientes sabemos que não.
Há poucos dias foi notícia na imprensa nacional, que o Governo mexeu no imposto que um deficiente não pagava na compra de um carro. Vai passar a pagar se o carro for de alta cilindrada. Mas qual o carro pequeno em que uma cadeira de rodas cabe?
A recente decisão da CP de alterar a chamada tarifa 2 por 1, ou seja o deficiente paga 25% e o acompanhante paga os restantes 75%, parece um benefício, mas só aparentemente. Durante anos nenhum governo investiu na ferrovia. Não há rampas, não há elevadores portáteis, não há sinalética em Braille, não há sinais sonoros… de que adianta pagar pouco, num bilhete de comboio, se não os podemos apanhar?
Mas sim, verdadeiramente há um privilégio: Nas viagens de avião, pagamos o mesmo que qualquer outro passageiro, mas poderemos ter todo o conforto do Mundo, porque o pessoal de cabine tudo faz para nos proporcionar o melhor voo possível.
Mas há outros privilégios também. Fazermos algumas dezenas de cirurgias, faz de um hospital a nossa segunda casa, temos na classe médica e de enfermagem, uma segunda família. E imaginem que até sabemos aqueles nomes esquisitos que às vezes os médicos dizem.
Mas como em tudo na vida, a sorte é feita de muito trabalho, de muita perseverança. Ninguém nasce ensinado a andar de cadeira. Felizmente tive a sorte de haver em Portugal, um centro de Medicina Física e Reabilitação, (ainda hoje um dos melhores da Europa) e, eu ter sido um dos que por lá aprenderam tudo ou quase tudo o que precisamos saber para ser cidadãos integrados e ativos na sociedade. A sorte faz suar!
Mas não digam que somos iguais. A igualdade não existe e fisicamente tenho mesmo algumas limitações. Há que aceitá-las, superá-las e sair para a rua, mesmo com maus passeios, com buracos, sem rampas… Porque a vida é para ser vivida na ajuda ao nosso irmão, que mesmo não sendo deficiente, pode precisar de alguém que no mínimo o ouça e, isso eu posso fazer.
Numa cadeira, de canadianas, cego, mudo, ou com qualquer outra deficiência, somos apenas seres humanos. A diferença mais do que nos separar será a nossa grande marca para este Mundo.

Parafraseando um livro escrito no Brasil, vamos todos ser felizes: “Na minha cadeira ou na tua?”

José Senra

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