Muitas vezes ouvimos que um
deficiente não trabalha, recebe uma pensão, não precisa gastar dinheiro porque
tem tudo ou quase tudo….
Será privilégio não conseguir ver
o sol? Será privilégio chegar a uma sala lotada e ter sempre cadeira para
estarmos sentados (até levamos a cadeira de casa), mas o Estado muitas vezes
nada comparticipou na sua aquisição, e poderemos estar a falar de mais de uma
dezena de milhares de euros.
Todas as pessoas têm o Direito de
ir e vir. Têm o Direito a terem igualdade de oportunidades. Está na lei
fundamental do país, a Constituição da República Portuguesa. Mas bastará tais
direitos estarem plasmados em forma de Lei? Todos nós deficientes sabemos que
não.
Há poucos dias foi notícia na
imprensa nacional, que o Governo mexeu no imposto que um deficiente não pagava
na compra de um carro. Vai passar a pagar se o carro for de alta cilindrada.
Mas qual o carro pequeno em que uma cadeira de rodas cabe?
A recente decisão da CP de
alterar a chamada tarifa 2 por 1, ou seja o deficiente paga 25% e o
acompanhante paga os restantes 75%, parece um benefício, mas só aparentemente.
Durante anos nenhum governo investiu na ferrovia. Não há rampas, não há
elevadores portáteis, não há sinalética em Braille, não há sinais sonoros… de
que adianta pagar pouco, num bilhete de comboio, se não os podemos apanhar?
Mas sim, verdadeiramente há um
privilégio: Nas viagens de avião, pagamos o mesmo que qualquer outro
passageiro, mas poderemos ter todo o conforto do Mundo, porque o pessoal de
cabine tudo faz para nos proporcionar o melhor voo possível.
Mas há outros privilégios também.
Fazermos algumas dezenas de cirurgias, faz de um hospital a nossa segunda casa,
temos na classe médica e de enfermagem, uma segunda família. E imaginem que até
sabemos aqueles nomes esquisitos que às vezes os médicos dizem.
Mas como em tudo na vida, a sorte
é feita de muito trabalho, de muita perseverança. Ninguém nasce ensinado a
andar de cadeira. Felizmente tive a sorte de haver em Portugal, um centro de
Medicina Física e Reabilitação, (ainda hoje um dos melhores da Europa) e, eu
ter sido um dos que por lá aprenderam tudo ou quase tudo o que precisamos saber
para ser cidadãos integrados e ativos na sociedade. A sorte faz suar!
Mas não digam que somos iguais. A
igualdade não existe e fisicamente tenho mesmo algumas limitações. Há que
aceitá-las, superá-las e sair para a rua, mesmo com maus passeios, com buracos,
sem rampas… Porque a vida é para ser vivida na ajuda ao nosso irmão, que mesmo
não sendo deficiente, pode precisar de alguém que no mínimo o ouça e, isso eu
posso fazer.
Numa cadeira, de canadianas,
cego, mudo, ou com qualquer outra deficiência, somos apenas seres humanos. A
diferença mais do que nos separar será a nossa grande marca para este Mundo.
Parafraseando um livro escrito no
Brasil, vamos todos ser felizes: “Na minha cadeira ou na tua?”
José Senra
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