sábado, 3 de setembro de 2016

«Os Bombeiros estarão sempre presentes e disponíveis» - assegura Luís Pedro Saraiva, comandante da Corporação de Bombeiros de Caminha




Há semanas o concelho de Caminha, concretamente algumas freguesias, foi assolado por um inferno de chamas. Durante dias o toque das sirenes, o receio, o ambiente com cheiro chamuscado e a prestação dos Bombeiros foi uma constante. Além, de uma população atenta e prestável na ajuda aos homens que combatiam o incêndio, isto na entrega no quartel de bens essenciais.
O Assimassim falou com Luís Pedro Saraiva, comandante da corporação dos Bombeiros Voluntários de Caminha. Numa entrevista onde ficamos a conhecer melhor a dedicação e empenho de homens e mulheres no serviço para com os outros. As necessidades, exigências e objectivos também foram abordados, e, sem esquecer, os meios necessários e a garantia que no concelho existe um Plano de Emergência.

Assimassim (aa) -– O que representa ser comandante dos bombeiros de Caminha?
Luís Pedro Saraiva (LPS) – Representa muito e muita coisa. Antes de mais, é uma responsabilidade enorme como Comandante do Corpo de Bombeiros representar uma Corporação com mais de cento e vinte anos de história, e todos aqueles que nela deram e dão voluntariamente todos os dias o seu melhor em prol da sociedade, e a quem todos nós tanto devemos. Representa também uma grande responsabilidade na direcção e administração de toda a actividade do Corpo de Bombeiros, de acordo com as competências que a Lei me confere. Representa, para mim e para todos os Bombeiros, muitas horas de sacrifícios pessoais, e horas e horas subtraídas ao convívio com as nossas famílias e com os nossos amigos. Mas vale a pena, é sem dúvida um orgulho enorme poder fazer parte deste grupo de pessoas fantásticas que sem pedir nada em troca deixam tudo para prestar auxilio a quem dele necessita, a qualquer hora.      

Aa -Concretamente, quais as suas funções?
LPS – Concretamente e de acordo com a Lei, o Comandante é o responsável pelo desempenho do Corpo de Bombeiros na generalidade, e dos seus elementos em particular, no cumprimento das missões que lhe estão legalmente atribuídas, nomeadamente na prestação de socorro em qualquer tipo de ocorrência, transporte de acidentados e doentes, prevenções, emissão de pareceres, acções de formação e sensibilização, representações, etc...
Em termos práticos ao Comandante compete o comando, direcção, administração e organização de toda a actividade do Corpo de Bombeiros de modo a garantir a qualidade da prestação do socorro e emergência às populações e das acções de protecção civil.
Felizmente, tenho um 2º Comandante e um incansável Adjunto de Comando a quem delego competência para realizarem muitas das tarefas diárias, em quem confio plenamente e a quem quero também deixar aqui uma palavra de reconhecimento. Como é uma estrutura hierarquizada perfeitamente definida a cada nível cada qual sabe as suas atribuições e a quem tem de prestar contas. Neste aspecto torna-se mais fácil, mas já se sabe que se delegam competências, mas não se delega a responsabilidade, que no final e em ultima análise é sempre minha.

Aa - Quantos bombeiros profissionais existem na corporação?
LPS – Bem essa é uma questão difícil, e não queria alongar-me muito, porque há interpretações diversas relativamente a este assunto, nomeadamente sobre a questão de ser Bombeiro profissional ou profissional Bombeiro, ou ainda cidadão Bombeiro voluntário que trabalha num Corpo de Bombeiros detido por uma Associação Humanitária, sem ter de facto a profissão de Bombeiro. Mas isso é outra conversa, que nos levaria para outros caminhos.
Em termos práticos no meu Corpo de Bombeiros são todos Bombeiros voluntários nenhum tem de facto a profissão de Bombeiro, penso que o quererá saber é quantos destes trabalham a tempo inteiro e recebem salário. Neste caso são manifestamente poucos, são apenas oito elementos assalariados, sendo que cinco destes fazem uma escala rotativa de dois elementos afectos à guarnição do serviço de emergência medica do INEM nas 24 horas, os outros três asseguram os serviços restantes, principalmente o transporte de doentes não urgentes, no período normal de trabalho.
Mas voltando à questão do serem ou não Bombeiros profissionais, é que não podia prosseguir sem voltar a ele, posso assegurar-lhe que os nossos voluntários em termos de conhecimentos, formação e na actuação são reconhecidamente profissionais de excelência muito acima da média até dos chamados profissionais em titulo. Podemos todos estar tranquilos nesse aspecto porque temos pessoal com capacidade técnica, dedicação e profissionalismo extremo.

Aa - Quantos voluntários?
LPS – Atendendo ao que lhe disse anteriormente, somos todos voluntários, embora os tais oito de que lhe falei sejam remunerados. Neste momento entre o Quadro activo e o Quadro de Comando somos no total de 39 elementos. Resumindo: três fazem parte do Quadro de Comando, o Comandante, o 2º Comandante e o Adjunto de Comando, e os restantes fazem parte do Quadro activo, dos quais oito trabalham no Corpo de Bombeiros a tempo inteiro.

- Aa – Entre eles existem mulheres? Como são vistas num meio essencialmente de homens?
LPS – Sabe , nós entre Bombeiros não vemos as coisas dessa forma e não há na prática distinção devido ao género. São todos tratados do mesmo modo, todos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres e também as mesmas oportunidades. Não há aqui qualquer tipo de discriminação, no entanto os Bombeiros homens são também uns cavalheiros e há certas tarefas em que, até por questões físicas, são eles que se chegam à frente, noutras são mais “elas”. Nunca dei nenhuma indicação para tratamento diferenciado pelo facto de serem mulheres ou homens, excepto nas camaratas que são separadas, claro.
O que eu sinto é que há um ambiente muito saudável entre todos os Bombeiros, “eles” e “elas”, com respeito mutuo, uma convivência e partilha muito positiva e isso é fantástico. O melhor exemplo que lhe posso dar é que temos casos em que marido e mulher são Bombeiros.
Neste momento temos cinco mulheres no Quadro activo , ou seja mais de 10%, já tivemos mais mas também já tivemos menos. Sinceramente não é um assunto que me preocupe muito por agora. A vida é assim, temos de aceitar que infelizmente a partir de uma certa idade seja mais difícil para uma mulher conseguir conciliar a vida familiar com as suas obrigações no Corpo de Bombeiros. E o caso dos homens é semelhante.
Claro que gastava de poder contar mais mulheres, mas estamos acima da média do que se passa noutros Corpos de Bombeiros e isso já me deixa um pouco mais satisfeito. Fica aqui o apelo às mulheres para que se inscrevam neste Corpo de Bombeiros.

- Aa – A corporação necessita de mais homens?
LPS – Sem dúvida, precisa de mais homens e de mais mulheres. Como lhe disse, as obrigações para com o Corpo de Bombeiros começam a ser difíceis de compatibilizar com a vida familiar, principalmente para quem tem filhos pequenos. Por isso precisamos de mais pessoal para que se possa fazer uma maior rotação de pessoal entre serviços. Temos um quadro de pessoal homologado com capacidade para 77 elementos, portanto neste momento temos cerca de 50% do pessoal previsto.
Aproveito esta oportunidade para fazer um apelo a todos aqueles, e já agora a todas aquelas, que tem entre 18 e 45 anos se juntem a nós, inscrevendo-se para a formação inicial de Bombeiro, abraçando uma causa nobre e que será certamente um motivo de orgulho.

- Aa- Que está a ser feito no sentido da formação?
LPS – Para mim este foi sempre um ponto chave e o meu primeiro objectivo desde que iniciei o cargo de Comandante em 2006. Desde essa altura para cá muito mudou nos Bombeiros, quer na minha Corporação quer nos Bombeiros em geral. Dantes a formação era uma miragem e estava apenas disponível para alguns. Mas era assim.  Eram essas as regras, mesmo a nível interno.
Confrontado com isto, tomei como prioridade e desígnio para o meu Corpo de Bombeiros a formação e valorização do pessoal, quer através da formação quer através da progressão na carreira.
Logo no início realizou-se uma Escola de Bombeiros com a formação inicial que na altura era de 350 horas, e com a entrada de novos elementos. Foram feitas acções de formação a todos os níveis para todo o pessoal, sem excepção.
De seguida tratamos abrir concurso para promoção a Bombeiros de 2ª classe dos Bombeiros de 3ª classe que não eram promovidos há mais de cinco anos. Continuamos com este espirito e conseguimos que todos os elementos fizessem recertificação em Técnicas de Socorrismo e em Salvamento e desencarceramento.
Fizemos o provimento de mais dois elementos na carreira de Oficial Bombeiro, que é uma carreira para Bombeiros que possuem um grau académico universitário, e ainda este ano vamos abrir concurso para que possam ser promovidos.
No ano passado, fizemos a abertura de concurso para promoção a Bombeiro de 1ª Classe e a Bombeiro de 2ª Classe, onde foram promovidos sete e treze Bombeiros respectivamente .
Até ao fim desta comissão de serviço, que termina daqui a menos de um ano, tenho como objectivo fazer mais uma Escola de Bombeiros e assim aumentar o número de efectivos pelo menos em 25%.
Nos últimos quatro anos houve dezenas de formações e treinos operacionais a todos os níveis e em várias matérias em que participou a generalidade do pessoal. Hoje ninguém se pode queixar de falta de formação. Nesse aspecto, estou muito satisfeito com aquilo que conseguimos alcançar e ao nível a que chegamos. Estamos entre os melhores.

Aa- Essa formação existe com regularidade na corporação de Caminha?
LPS – Posso -lhe dizer que hoje em dia só não faz formação quem não quiser ou não tiver disponibilidade, porque há imensas oportunidades para frequentar cursos, acções de formação, treinos operacionais conjuntos com outros Corpos de Bombeiros, etc.. Porque os cursos existem e tem havido bastantes vagas, talvez não as necessárias, mas as suficientes e as possíveis. E isto a todos os níveis, desde o Comandante até ao Bombeiro mais novo e menos graduado da Corporação, a formação está disponível para todos.
Neste aspecto, tem havido um grande interesse e disponibilidade e até sacrifício do pessoal para frequentar formações, que muitas vezes são até fora do distrito, e todos os Bombeiros tem feito muitas horas de formação e treino, principalmente nos quatro últimos anos.
Para além das formações promovidas pelas entidades oficiais e acreditadas para dar formação aos Bombeiros, a Escola Nacional de Bombeiros, a ANPC, e o INEM, há ainda a instrução interna do Corpo de Bombeiros onde todos os Bombeiros são obrigados a fazer pelo menos 40 horas de formação.

Aa - Basicamente em que consiste a mesma?
LPS – A formação dos Bombeiros está regulamentada pelo Despacho nº 9920/2015 que define o Regulamento dos Cursos de Formação, de Ingresso e de Acesso à Carreira de Bombeiro Voluntário. Está lá tudo, todos os cursos e a quem se destinam e em que fases da carreira, um verdadeiro tratado a todos os níveis.
Antes de mais, para se ser Bombeiro é necessário fazer a formação de ingresso na carreira num total de 250 horas. Nesta formação são fornecidos conhecimentos sobre o modo de funcionamento dos Bombeiros, sobre veículos e os seus equipamentos, sobre extinção de incêndios urbanos e florestais, bem como o curso de primeiros socorros e curso de salvamento e desencarceramento, com 50 horas cada. Estes últimos são ministrados pela Escola Nacional de Bombeiros onde há exames e notas, e o candidato a Bombeiro é considerado apto ou não apto. A somar a isto há um período provatório de estágio de com duração mínima de três meses.
Depois há ainda que distinguir a formação externa e a formação interna. A formação externa é ministrada, como lhe disse há pouco, por entidades acreditadas para esse efeito e igual para todos os Bombeiros do país. Da formação externa, por assim dizer, há a chamada formação de aperfeiçoamento técnico que é feita regularmente ao longo da carreira. Esta formação está organizada de forma modular e por níveis, sendo que algumas têm precedências.
As formações são compostas geralmente por uma componente teórica e por uma componente prática, com carga horária mínima de 25 ou 50 horas. Há formações que são obrigatórias e outras que são facultativas, mas em todas há exames e notas. Por exemplo, a formação para ser tripulante de ambulância de socorro é obrigatória e tem uma duração de 210 horas ministradas pelo INEM. Escusado será dizer estas formações têm validade e é necessário fazer recertificações periodicamente.
A formação interna, as instruções, para além de sessões teóricas, esta formação consiste basicamente em treino e aplicação de conhecimentos a situações simuladas, para que quando confrontados com situações reais alguns procedimentos estejam mecanizados e sejam executados com rapidez e segurança. Dou-lhe como exemplo o conhecimento dos veículos e dos equipamentos que deles fazem parte bem como o seu correto manuseamento que é fundamental, assim como deve ser verificado e testado com regularidade por todos os Bombeiros.
Como vê a formação e treino dos Bombeiros é permanente e exigente, o que obriga também a uma grande disponibilidade e motivação do pessoal em manter-se actualizado.
Aa - Qualquer cidadão pode ser bombeiro, quer profissional ou voluntário?
LPS – Em principio sim, qualquer pessoa com idade entre os 18 e os 45 anos pode ingressar nos bombeiros. Desde que frequente a tal formação de ingresso na carreira, que seja aprovado, e logo que seja considerado apto após o estágio passa a ser Bombeiro de 3ª Classe.
Há questões que são condicionantes como por exemplo a escolaridade mínima, que para os nascidos antes de 1 de Setembro de 1997 a escolaridade obrigatória é o 9.º ano, e da capacidade física que tem de ser comprovada por atestado médico.
Mas ser Bombeiro não é uma questão de “poder ser”, é mais uma questão de “querer ser”. É necessário querer mesmo ser Bombeiro porque é necessário muito empenho, dedicação e disponibilidade. Mas a experiência compensa.

Aa -Em caso de incêndio quando ou em que circunstância se apela aos voluntários?
LPS – Sempre, e não é só em caso de incêndio. Como lhe disse há pouco, esta Corporação tem apenas cerca de 10% de pessoal assalariado, que assegura a primeira linha do serviço de emergência médica e o transporte de doentes não urgentes, pelo que muitos dos serviços são realizados pelo pessoal não assalariado, os tais chamados de voluntários.
É claro que numa situação de incêndio geralmente é necessário contar com um número considerável de Bombeiros e por isso todos são chamados a intervir, quer pelo toque da sirene quer por contacto telefónico. Claro que em determinadas horas do dia uns têm mais disponibilidade de que outros. É a vida!
Os piquetes nocturnos, as prevenções em espectáculos e eventos, outros serviços não urgentes, e muitos transportes de doentes, são assegurados por pessoal não assalariado. E em certas situações sem esse pessoal era completamente impossível garantir até o próprio socorro.
Posso dar-lhe o exemplo deste ultimo grande incêndio em que todos os Bombeiros desta Corporação estiveram envolvidos, uns com mais horas outros com menos, mas todos deram o seu contributo, e não foi coisa pouca. Muitos deixaram os seus trabalhos durante dias, com prejuízos pessoais, para estar envolvidos nas acções de combate ou naquilo que era preciso no momento em prol da população. É um facto que tem de ser enaltecido e valorizado.

Aa - Nos últimos tempos tem havido um recuo no voluntariado?
LPS – Nos últimos anos as exigências quer para ser Bombeiro quer para se manter nos Quadros tem aumentado, como é o caso do número de horas de formação necessárias, do número mínimo de horas obrigatórias de piquete e de instrução, o aumento dos serviços de prevenção a eventos nos fins de semana, etc.
O sistema de incentivos ao voluntariado nos Bombeiros também não ajuda muito a que as pessoas sintam apoio pela disponibilidade a que se dispõem. Mas penso que não será por isso que há menos pessoas a voluntariar-se para ser Bombeiros ou a disponibilizar menos tempo de serviço voluntário.
Por outro lado, penso que a situação económica e financeira a que o país chegou, e em que nos encontramos, também leva a que as pessoas tenham tendência a ocupar os seus tempos livres com trabalhos remunerados, deixando menos tempo disponível para o voluntariado. E isto tem-se sentido nesta Corporação.

Aa - Nesse sentido, não deverá existir, campanhas de sensibilização junto da comunidade? Elas existem? Em que moldes?
LPS – Penso que a comunidade está muito sensibilizada para a causa dos Bombeiros e isso viu-se pela forma como se solidarizaram no apoio com agua, comida, fruta, bolachas etc, que foram entregando no Quartel durante este ultimo incêndio. Aproveito a oportunidade para agradecer todo o apoio quer material quer humano e incentivo que foi dado pela população aos nossos Bombeiros. Foi realmente fantástico.
Mas voltando ao assunto, estamos neste momento numa acção de recrutamento de elementos para formação de uma Escola de novos Bombeiros. Já estão na rua cartazes e telas com informações para inscrição e estamos a trabalhar nesse sentido junto das paróquias, juntas de freguesia, escolas, e outras instituições. Queremos envolver toda a comunidade nesta acção tão importante e tão necessária para aumentar o número de Bombeiros desta Corporação.

Aa - Em caso de incêndio, quando e em que circunstâncias se opta por solicitar o auxílio do comando distrital ou nacional?
LPS – Penso que se está a referir ao caso dos incêndios florestais, e que há neste aspecto alguma falta de informação e de conhecimento da orgânica e do funcionamento do chamado DECIF, Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, o que leva a algumas confusões. Todos os anos há um despacho do Ministério da Administração Interna que faz a homologação da directiva Operacional Nacional nº2, que estabelece o DECIF para esse ano e como ele se articula.
É a ANPC a través do Comando Distrital de Operações de Socorro, CDOS, na pessoa do Comandante Distrital que, no período de vigência do DECIF, assegurar a cooperação institucional e coordenação operacional, a nível distrital e municipal. Isto é, faz a coordenação dos meios.
Portanto quando há um incêndio em qualquer ponto do distrito o Comando Distrital coordena os meios dos Corpos de Bombeiros afectos ao DECIF, e em principio os mais próximos, de modo a que seja dada uma pronta resposta. Para que entenda, dou-lhe um exemplo: perante um incêndio em Caminha, em principio na fase inicial, o CDOS acciona para o local os meios dos Bombeiros de Caminha, de V.P de Âncora e de VN de Cerveira.
Outra coisa é o Comando das operações, que se desenvolve de uma forma modular e evolutiva conforme a quantidade de meios envolvidos e compete, até determinado nível, ao Bombeiro mais graduado no teatro de operações. A partir de uma certa dimensão dos meios envolvidos na operação esta tem de ser comandada pelo Comandante do Corpo de Bombeiros. Chegada a uma determinada fase, quer pela quantidade de meios, natureza ou extensão e quantidade de meios envolvidos compete á ANPC assegurar o controlo da operação. Isto é a Lei, é assim.
Mas isto é na teoria, porque a directiva implicitamente permite à ANPC avocar o Comando da Operação em qualquer circunstância. Geralmente isto acontece nos casos de operações mais mediáticas ou politicamente mediatizadas. Este ano por acaso não os vi tão activos nas televisões, nem sei porquê.

Aa -Recentemente, o concelho de Caminha foi vítima de um enorme incêndio. Os meios foram os suficientes? Visto que as chamas se alargaram por várias freguesias …
LPS – Perante as circunstâncias em que o incêndio deflagrou, temperatura acima dos 30 graus, humidade relativa abaixo dos 30%, velocidade do vento superior 30 km/h com rajadas, e com o relevo e vegetação em causa, os meios quer do concelho, quer do distrito nunca seriam suficientes. Principalmente na fase inicial do incêndio os meios disponíveis revelaram-se manifestamente escassos face à dimensão que rapidamente este tomou.
Repare-se que o incêndio teve inicio por volta das cinco e meia da tarde e às oito e meia da noite, e após vários pedidos de equipas de reforço, ainda só estavam a combate-lo cerca de 35 Bombeiros, com frentes activas com quilómetros de extensão. Nessa noite protegeram-se principalmente as casas que era a primeira prioridade, e que se conseguiu com os meios disponíveis. Foi um trabalho fantástico, mesmo com a extensão do incêndio e com a quantidade de reacendimentos que se verificavam a toda a hora. E não foram só os Bombeiros, foram também muitos populares que deitaram a mão como podiam para ajudar. E assim é que deve ser.
Em termos florestais houve perdas enormes e que levarão anos a ser reparadas. Houve situações muito complicadas junto de habitações que felizmente foram resolvidas sem grandes danos ou perdas avultadas, embora por precaução se tivesse procedido a evacuações de algumas casas devido ao fumo, mas ninguém ficou desalojado.
É preciso analisar o assunto friamente e sem paixões e ter em conta que nessa semana, e na semana anterior, houve uma enorme quantidade de ocorrências em condições muito difíceis quer por todo o distrito quer no país inteiro. Há que reconhecer que não havia Bombeiros para tantos incêndios, e parte dos que havia estavam já exaustos de uma semana intensa de muito trabalho e com pequenos períodos de descanso.
Atendendo às circunstâncias e à dimensão deste incêndio acho que podemos dizer que no final o resultado foi muito positivo, atendendo a que não houve feridos graves a lamentar ou perdas materiais avultadas.

Aa -Qual a área ardida neste último incêndio?
LPS – A indicação que tenho do levantamento preliminar feito pelo Gabinete Técnico Florestal da Câmara Municipal de Caminha é que serão cerca de 1700 hectares de área ardida, entre pinhal, eucaliptal, pequenas explorações agrícolas, mato, terrenos incultos, etc.

Aa -Existiram críticas no que aos caminhos florestais diz respeito, considerando a população não estarem nas devidas condições para a passagem das viaturas dos bombeiros e no seu trabalho. Qual a situação do concelho neste assunto?
LPS – Na generalidade os caminhos florestais estão minimamente transitáveis, tendo sido beneficiados principalmente os estradões onde passa o rali, o que veio permitir que se atravesse quase o conselho inteiro pelo meio do espaço florestal desde Dem até Riba de Âncora rapidamente e em condições excelentes. Claro que há sempre espaço para se melhorar e é um trabalho que pode e deve ser feito, principalmente no que diz respeito aos particulares.

Aa -Por vezes, é o homem o incendiário e, por outras, existe uma falta de manutenção dos caminhos ou até mesmo junto das residências. Os proprietários são sensibilizados para a manutenção da área que lhes compete?
LPS – Esse é um assunto complexo e não parece fácil de resolver, até porque há muitas propriedades ao abandono sem qualquer cuidado ou cultivo. Isto acontece não só nos espaços florestais, mas também no meio de aglomerados populacionais. Muitas pessoas não fazem sequer a limpeza dos seus próprios terrenos junto das suas habitações.
Felizmente há muitos casos em que é feita a limpeza como a Lei prevê, mas ainda á muito que fazer nessa matéria em termos de sensibilização e educação dos proprietários. Muitos, há boa maneira portuguesa, só se lembraram de fazer alguma coisa depois deste grande incêndio.

Aa -Existem coimas para quem não cumpra estas normas?
LPS – Sim, a Lei prevê entre outros aspectos coimas para quem não proceda à limpeza dos seus prédios,

Aa - Em caso de incêndio, quando podemos considerar que estamos presentes perante uma emergência ou catástrofe?
LPS – A Lei de Bases da Protecção Civil , a Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho, com as recentes alterações, define aquilo que se chama de acidente grave ou catástrofe, e que de uma forma muito generalista lhe vou tentar explicar, tem a ver com a dimensão da ocorrência, com a limitação no tempo e no espaço, com a forma como afecta o modo de vida das pessoas e os seus bens, com o número de vítimas e seu estado e com os prejuízos que causou ou pode causar.
Em termos teóricos pode considerar-se que quase todos incêndios são é uma emergência, uma vez que se associa a emergência a qualquer processo que possui capacidade de alteração das condições normalmente estabelecidas, obrigando a tomada de medidas extraordinárias.
Para um incêndio se considerado uma catástrofe seria de uma gravidade tal suscetível de provocar elevados prejuízos materiais e, eventualmente, vítimas, afectando intensamente as condições de vida e o tecido socioeconómico em áreas ou na totalidade do território nacional.


Aa -Existe em Caminha um Plano de Emergência?
LPS – Sim, o município de Caminha tem um plano de emergência municipal.

Aa -Em que consiste?
LPS – Um Plano de Emergência é uma ferramenta de gestão que define um conjunto de regras e procedimentos quer para a sua activação quer para a execução perante aquilo que se considera uma ocorrência grave ou catástrofe ou na sua eminência. Deve ser apenas ativado em situações que pela sua dimensão e gravidade justifiquem o accionamento de meios públicos e privados para fazer face às situações de emergência.

Basicamente quando o Plano é ativado é transferida para a competência da Comissão Municipal de Protecção Civil, entre outras, a gestão e coordenação de determinada ocorrência, nomeadamente as estruturas e órgãos de coordenação e comando.

Aa -Algumas artérias de Caminha tiveram alterações no último incêndio. Houve algumas críticas à forma como elas foram impostas. Como comandante da corporação dos Bombeiros de Caminha que comentário lhe merece?
LPS – Penso que se refere ao facto de ter sido condicionado o trânsito na Rua Lino Felgueiras da Silva, que é rua onde se situa o Quartel dos Bombeiros. Não tinha conhecimento dessa interpretação, mas acredito que assim seja, há gente para tudo.
Bem, o que lhe posso dizer sobre isso é que me parece que se tratou apenas de uma questão de bom senso. Repare, no próprio dia, mas principalmente nos dois dias seguintes a este grande incêndio, havia uma grande movimentação de meios na rua com carros de Bombeiros e ambulâncias a entrar e a sair, movimento este que estava a ser incompatível com o trânsito normal nessa rua.
A somar a isto há que ter em conta que estamos no mês de agosto, com um aumento significativo do trânsito automóvel na vila de Caminha. Acresce ainda a quantidade de pessoas que num movimento de solidariedade sem precedentes vinham de carro e queriam entregar donativos ou apena felicitar os Bombeiros pelo seu trabalho. Chegou-se a um ponto em que nem os carros de Bombeiros conseguiam transitar ou mesmo entrar no Quartel, por isso pareceu-me sensato que se procedesse ao desvio do trânsito vindo do centro para outra rua.
Parece-me de um egoísmo e falta de sensibilidade extrema quando há pessoas e habitações em risco e se vem fazer observações a quem está a trabalhar no sentido de resolver o problema só porque lhes causa transtorno fazer um desvio de 250 metros de carro. Não compreendo.

Aa - Para terminar, que palavras gostaria de deixar aos bombeiros de Caminha e a população?
LPS – Aos Bombeiros não preciso de dizer muito, todos conhecem o meu sentimento, respeito, admiração e confiança no seu trabalho. Deixo, pois, a todos e a cada um em particular, uma palavra de reconhecimento pelo seu empenho que é por demais devida, quer por mim quer por toda a população.
Resta-me, em meu nome pessoal e em nome da Corporação que represento, um sentido agradecimento e profundo reconhecimento pela forma como a população se sensibilizou pela causa dos Bombeiros e pelas manifestações de solidariedade que temos vindo a receber, e reafirmar que no que respeita a esta Corporação podem estar confiantes e tranquilos porque os Bombeiros estarão sempre presentes e disponíveis.

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