sábado, 7 de janeiro de 2017

SCC é «sangue de leão» - revela em entrevista Rui Canas

O Sporting Clube Caminhense tem objectivos bem concretos, apesar dos seus 90 anos, e os seus atletas sabem com sacrifício e entrega mostrar a raça deste leão.
Rui Canas, é mais um atleta deste clube. É natural de Moledo, tem 36 anos, casado e com dois filhos e a par do remo é, também Técnico de Aerogeradores nos parques eólicos do Alto Minho.
O seu nome já consta da história do clube mas, também do nacional ao concretizar a proeza de conquistar o mesmo título três anos consecutivos.
Em entrevista ao assimassim Rui Canas fala do seu percurso e como o espírito do Sporting  Clube Caminhense só se sente ao viver o clube na sua plenitude.


Aa - Quanto tempo tens de Sporting Clube Caminhense?
Rui Canas - Iniciei no remo em 1994, os meus pais já haviam sido atletas no SCC na sua juventude e nesse ano, aos meus 13 anos inscreveram-me nas férias desportivas, que julgo terem sido as primeiras organizadas pelo clube, onde tive a oportunidade de conhecer a grandiosidade do clube e aprender os princípios básicos da modalidade. Desde então remei como iniciado até ao 2º ano de Sénior em 2001 quando interrompi a prática por lesão e por questões profissionais, pois fui trabalhar para longe. Em 2013 já tinha voltado para o Concelho e decidi começar a treinar novamente apenas para manter a forma. Como no SCC ninguém consegue treinar só para manter a forma, acabei por competir já nesse ano, mantendo-me activo até hoje, contando já com 12 épocas de remo ao serviço do SCC, nas quais consegui obter 15 títulos nacionais entre outros.

Aa – Que te motivou para a prática do remo e ser atleta do SCC?
RC – Como disse foi-me dado a conhecer o remo através das férias desportivas, e como sempre tive uma boa relação com a agua e tudo o que é desporto náutico, aliado ao ambiente de superação que se faz sentir ás portas do SCC, rapidamente vi que aquele era o meu desporto.
- Aa – Que te dá o Sporting Clube Caminhense que outros não?
RC – O SCC inevitavelmente dá-me sempre um objectivo, é impossível treinar neste clube sem entrar para o campo de qualquer regata e não pensar no lugar mais alto do pódio e sem ser campeão nacional no final da época. Tanto é que não houve época nenhuma que tivesse remado e que não tivesse conseguido pelo menos um título nacional.
Em relação a outros clubes não sei, pois sempre defendi as cores do SCC. No entanto, já tive a oportunidade de remar com atletas que vinham de outros clubes, do Porto, Viana, Cerveira, entre outros, e que vinham remar para cá para experimentar a mística que sentiam nas nossas equipas, quando alinhavam ao nosso lado como adversários. E todos eles dizem que é preciso experimentar remar no SCC para saber o que é a verdadeira raça do leão, e o verdadeiro sacrifício que este nosso desporto nos leva a atingir.
- Aa – Os títulos mais relevantes para ti?
RC – Um dos títulos mais satisfatórios como atleta foi a Medalha de Ouro conseguida nas regatas internacionais de Gent na Bélgica,  em 1998, no Shell de 8 Júnior,  pois na altura tínhamos perdido no dia anterior para os Ingleses do Leander por 1 décima numa regata taco a taco desde a largada até á meta, o que fez desta uma das regatas mais espectaculares desse campeonato e nas quais estive envolvido, com o publico ao rubro a dar uma emoção e força adicionais, o que também foi uma experiencia nova, já que nessa altura não havia ainda uma pista balizada de remo em Portugal, sendo esta uma estreia para toda a tripulação em pista.
Mas os títulos mais significativos na realidade já em Sénior foram os que me ditaram tri-campeão nacional em Shell de 4. Estes 3 títulos 2014-2015-2016 tem um sabor especial, pois são hoje parte da história não só do clube como também do remo nacional, uma vez que nunca antes havia acontecido no SCC ganhar por 2 e muito menos por 3 anos consecutivos este título. De realçar,  ainda, que o fizemos exactamente com a mesma tripulação, composta de 4 elementos que tinham horários e compromissos pessoais completamente desencontrados, sendo por isso então preciso treinar muitas vezes às 6 da manha para nos conseguirmos juntar e fazer água. Esta equipa funcionou porque em cada elemento corria o sangue do leão e cada um cumpriu á risca o plano de treino á hora que podia, às vezes a sair do posto náutico para la da meia-noite, mas havia um objectivo e a prioridade foi sempre chegar ao Verão e cortar a meta na frente no campeonato nacional de velocidade. Quando reina o espirito de equipa e a camaradagem que se fazia sentir, dificilmente se pode falhar.
Estas foram as 2 tripulações que integrei e que mais me marcaram.

- Aa – O SCC está apostado na formação e no remo adaptado. Como atleta qual a tua opinião?
RC – Na minha opinião,  como atleta e também como dirigente, esta deve ser a aposta em qualquer clube e em qualquer modalidade, uma vez que, se não tivermos uma escola com muitos atletas e com técnicos capazes de lhes dar as bases necessárias para o seu desenvolvimento na modalidade, vamos andar sempre a depender dos mesmos atletas que foram já grandes glórias do clube, e que continuam a ser ainda bons atletas. No entanto,  já todos veteranos e vai chegar o dia que já não têm capacidade ou vontade para a competição, por isso devemos ter sempre jovens a ser orientados para o futuro do clube, sendo sempre importante ter os atletas mais velhos no clube, para passar aos mais novos a mística do clube. Esta mística que tanta diferença faz na hora da verdade. Neste momento temos já uma equipa sénior bastante jovem, fruto desta aposta que iniciou há 2 anos atrás e que dentro de 3 ou 4 anos ira ter um peso e uma realidade muito agradável.
 Em relação ao remo adaptado é também uma realidade que deve ser acatada. No entanto, é preciso criar condições tanto em termos de equipamento, técnicos e instalações, no qual o clube já está a trabalhar e que conto ser uma realidade a curto prazo, pois é uma obrigação cívica por assim dizer mostrar o remo a todos aqueles que o queiram praticar sem excepção.
- Aa – Que ídolos tens no remo?
RC – Na minha vida não me regro por ídolos, na verdade conheço muito poucos nomes do remo alem do nacional. A minha realidade é o SCC e o meu ídolo são os objectivos que defino na minha vida e que até ao momento consegui sempre alcançar, quer a nível desportivo, pessoal ou profissional.
Falando em atletas que no fundo tenho alguma admiração, temos o nosso Pedro Fraga que é o único que tem conseguido mostrar que Portugal existe no remo além-fronteiras.
- Aa – Que embarcação preferes? E porquê?
RC – Julgo que o quatro acaba por ser a embarcação com a qual mais me identifico, por ser uma embarcação onde consegues estar próximo de toda a equipa e ao mesmo tempo ser uma embarcação que requer uma agilidade e velocidade especiais. O Shell de 8 é sem dúvida uma embarcação que proporciona sensações muito diferentes, mas acaba por ser um pouco caricato, pois por vezes um atleta que reme mais á ré, por vezes nem se lembra quem é que vai la trás á proa. Os barcos mais curtos acabam por se tornar mais monótonos em treinos mais longos, no entanto uns bons quilómetros em skiff com um plano de água bom, é óptimo para regenerar corpo e mente nos piores dias.
- Aa – Já fizeste incursão no remo de mar. Que diferenças existem e qual a tua eleição?
RC – Sim, aliás integrei a época passada com o meu colega João Pinto a equipa de doublle de mar que o SCC colocou a disputar o primeiro circuito nacional de mar em Portugal, acabando por conseguir o primeiro título nacional em Portugal.
Esta vertente de remo apesar de ter o mesmo princípio de remada em termos de gesto, requer uma gestão táctica e física muito diferentes, uma vez que temos a condicionante das ondas e correntes, para alem das provas serem disputadas em grandes distâncias. No entanto, acho que é uma aposta de futuro e que acaba por colmatar a ausência de provas que existia com a paragem do remo olímpico entre Julho e Setembro, mantendo assim os atletas activos.
- Aa – Como atleta do remo que sonho ainda desejas conquistar?
RC – Como atleta e com a idade e pouco tempo livre que tenho não tenho grandes sonhos, apenas sempre que iniciar uma época que me permita competir ser campeão nacional. Para além disto, neste momento quero manter-me activo, disfrutar das sensações que o remo nos proporciona, continuar a treinar junto dos meus camaradas e ver o meu clube a crescer em termos de atletas, de património e condições físicas para oferecer a estes atletas o que eles merecem para serem os melhores.
- Aa – Recentemente, o SCC comemorou o seu 90º aniversário. Que representa para ti como atleta?
RC – São 90 anos de uma história da qual eu faço parte, é uma data memorável que ficou marcada com um monumento que encheu a vila e o concelho de orgulho. Para mim não menos importante do que os 90 anos que este clube tem, são próximos 90 que com o trabalho que se está a desenvolver serão com certeza ainda mais memoráveis.
- Aa – E o monumento de homenagem ao remador?
RC – Este monumento e o seu significado vi-o espelhado na expressão que todos os sócios, atletas, presidentes do clube e outras instituições e organizações do concelho, simpatizantes e até simples conterrâneos sem qualquer ligação ao desporto e ao remo, expressavam no dia em que foi inaugurado. Um dia cheio de emoções e orgulho, uma obra que dispensa apresentações, sobre a qual há que felicitar todos os que a fizeram possível e todos os atletas e dirigentes que ela representa.
- Aa – Como cativarias um jovem para a pratica do remo?
RC – Um jovem deve ser convidado a ver o que é o remo, mas sem dúvida que a única forma de o cativar é coloca-lo num barco e ensiná-lo como o colocar em movimento. Depois a sensação que o remo proporciona, inserido na beleza e harmonia da natureza e da água encarrega-se automaticamente do resto.
Julgo que o protocolo que o clube tem com o agrupamento de escolas do concelho e a aquisição de embarcações e remos de formação é o caminho certo para trazer estes jovens a conhecer o remo e o clube, depois cabe ao clube e seus técnicos cativar este jovens a continuar e ser federados, o que na minha opinião há-de chegar a hora que não será um problema.

Sem comentários:

Enviar um comentário

É tempo de descanso! …

O Agosto chegou e com ele o esperado descanso! … Sim, porque também nós precisamos de descansar, mas sempre atentos ao que passa no nosso co...